Textos, Tropeços e Pensamentos Quixotescos...

Jornalista. Cinéfila. Neurótica praticante. Aquela que sempre anda com um livro embaixo do braço. Aquela que adora compartilhar bobagens. Uma Dom Quixote fêmea, a combater moinhos de vento...
"Dize o que quiseres, conquanto que suas palavras não visem me atemorizar; assuma o seu medo, se o tiveres, que eu procederei como quem não tem, se for o caso."
(Dom Quixote de La Mancha)

29.8.06

"De Onde Viemos?"


Outro dia, quando saíamos do teatro, o Lucas (meu enteado) virou pra mim e perguntou: “Tia Lu, você sabe quem mentiu pro Brasil?” Eu pensei, pensei, pensei...afinal, o que uma criança de 6 anos gostaria que eu respondesse diante desta pergunta, assim, tão ampla? Então, optei pelo mais fácil: “Não sei meu amor, por quê?” Daí, pasmem, veio a surpresa: “Ué, foi o Lula, ele não prometeu dar comida para os pobres? E não deu, não foi?” Olhei para o meu marido, meu marido me olhou e nós ficamos lá, desacreditados...

As crianças na minha época eram espertas assim ou minha mãe tinha razão e eu era mesmo uma pamonha? Não que nós não tivéssemos uma vaga noção do que acontecia a nossa volta, mas éramos mais ingênuos, não? Lembro-me de um dia, quando ainda morava no interior, fui à Biblioteca da escola procurar um livro para ler (sim, eu sempre fui nerd!). De repente dei de cara com aquele famoso livrinho “De onde viemos?” Levei um susto, fiquei vermelha, fechei e guardei rapidinho...Dias depois, voltei lá e aí sim, bem escondidinha num canto, olhei página por página. Bem, eu tinha 8 anos, já ouvira muitas conversas entre adultos, mas ainda não entendia direito aquela história da Cegonha.

E as brincadeiras então...A gente andava de carrinho de rolimã emprestado, brincava com as Barbies, jogava queimada e a tecnologia de ponta da época era o Atari. Na minha rua só um menino tinha Atari e todos os dias as crianças da vizinhança iam na casa dele. Eu também ia, claro, mas pra falar a verdade nunca brinquei no Atari, porque era “coisa de menino”. Então, espiava de longe aquele aglomerado de garotos se acotovelando para jogar um pouco, enquanto nós meninas ficávamos em outro canto, fazendo comidinha para as bonecas com as panelinhas de mentirinha.

Brinquedo a gente só ganhava no Natal, roupinha nova só quando íamos passear, não tínhamos acesso a essa variedade absurda de informações que as crianças de hoje têm, criávamos nossas próprias brincadeiras e nos divertíamos tanto. E tudo na nossa geração de 80 ,que pode soar como antiquado e “careta” para os guris da geração 2000, deixa uma saudade enorme, né?

Agora a criançada cresce num piscar de olhos, a ficha cai mais rápido e tudo de bom e de ruim que quiserem conhecer está logo ali, na Internet. As lendas e histórias da nossa infância perdem pouco a pouco o sentido...Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e Fadinha do Dente andam sumidos...A TV e o cinema se encarregam de fabricar novos mitos.

A violência, a corrupção, a falta de patriotismo, a perda de valores e de regras, a indiferença com as questões ambientais, as guerras... Como nossos pequenos lidam com esse emaranhado de tragédias que surgem a cada dia? Será que enxergam tudo isso como fatos corriqueiros?

Os adultos sofrem, mas não é nada fácil ser criança no mundo de hoje.