Textos, Tropeços e Pensamentos Quixotescos...

Jornalista. Cinéfila. Neurótica praticante. Aquela que sempre anda com um livro embaixo do braço. Aquela que adora compartilhar bobagens. Uma Dom Quixote fêmea, a combater moinhos de vento...
"Dize o que quiseres, conquanto que suas palavras não visem me atemorizar; assuma o seu medo, se o tiveres, que eu procederei como quem não tem, se for o caso."
(Dom Quixote de La Mancha)

14.2.06

O começo de tudo....


Eu estava na segunda série. Um dia a professora Madalena entrou na sala, colocou seu material sobre a mesa, apagou o quadro e disse com seu sotaque mineirinho: "Vou ler uma redação para vocês." Não me recordo o tema, mas sei que logo nas primeiras linhas senti meu rosto ruborizar. Nunca ninguém havia me exposto daquela maneira. Enfim, lá estava eu, no auge de meus 8 anos de idade, diante de uma classe de cruéis coleguinhas, ouvindo a professora que eu amava (principalmente porque ela se parecia com minha avó), divulgar meus pensamentos infantis mais secretos... assim... sem pedir. Acabada a leitura, todos bateram palmas e alguns riram, principalmente a turma de repetentes do fundão. Fiquei triste, magoada, quase chorei, mas a professora ficou tão orgulhosa da minha redação que logo comecei a curtir a idéia.

Só mais tarde entendi que essa redação foi o primeiro sinal para aquilo que eu só saberia alguns anos depois: meu negócio era escrever. Uma descoberta cheia de paixão e dedicação. E assim, sem que eu percebesse, fui tomada por uma incrível novidade: viver em outros mundos, imaginar-me outras pessoas, criar personagens.

Minha “produção literária” aumentou consideravelmente quando ganhei uma máquina Olivetti de minha mãe. Ela comprou à prestação, em uma dessas lojas que vendem de tudo e com carnês a perder de vista. Então eu ficava para cima e para baixo com a minha Olivetti, tac, tac, tac. Surgiram diários, poesias, crônicas, peças de teatro...uma infinidade de palavras, frases e versos recheados de expressões que eu não sabia direito o que significavam, mas achava o máximo.

Os primeiros gurus surgiram ainda na adolescência: Hélio Damante e Professora Lourdinha. Hélio Damante era um jornalista aposentado, que tinha histórias lindas para contar, do tempo em que farmácia se escrevia com ph. Ele era filho de um dos fundadores da cidade de Bom Jesus dos Perdões, interior de São Paulo, onde minha avó-guerreira-Elvira concebeu minha mãe, meus tios e cultivou como uma leoa, até o fim da vida, a família Bueno. E era em um casarão, na rua da matriz, que eu e o senhor Hélio passávamos tardes inteiras na varanda, lendo artigos dos jornais e conversando sobre a profissão. Foi por sua culpa, inclusive, que meus primeiros textos tornaram-se publicáveis no jornal local. A casa ainda está lá, mas ele não mais. Ainda hoje, quando me lembro do senhor Hélio sentado em sua velha cadeira de balanço, bate uma saudade!

A professora Lourdinha eu conheci na 5º série, já em São Paulo. Ela lecionava português. Quando descobriu que eu gostava de escrever encheu minha cabeça de idéias, me inscreveu em concursos de redação da rede pública e mais tarde convidou-me para organizar com ela a biblioteca recém inaugurada da escola. Foi com ela que aprendi a gostar de Drummond e outros escritores bacanas. Fui uma das poucas alunas a freqüentar sua casa e receber cartões de natal. Ela tornou-se uma referência. Depois que saí dessa escola nunca mais nos vimos, mas a imagem daquela senhorinha de cabelos brancos e palavras sábias nunca mais saiu da minha cabeça e do meu coração.

Foi assim que ao concluir o segundo grau, enquanto meus amigos se desesperavam com suas escolhas para o vestibular, eu já sabia exatamente o que queria. E essa certeza motivou-me a fazer das tripas coração para cursar uma universidade.
O diploma não vale tanto, mas a certeza, apesar de tudo, ainda é a mesma.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Aeee Lu, legal vc ter começado esse blog!! :) Boa sorte com seus textos e seus sonhos minha amiga!!!

11:11 AM  

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