Textos, Tropeços e Pensamentos Quixotescos...

Jornalista. Cinéfila. Neurótica praticante. Aquela que sempre anda com um livro embaixo do braço. Aquela que adora compartilhar bobagens. Uma Dom Quixote fêmea, a combater moinhos de vento...
"Dize o que quiseres, conquanto que suas palavras não visem me atemorizar; assuma o seu medo, se o tiveres, que eu procederei como quem não tem, se for o caso."
(Dom Quixote de La Mancha)

25.1.08

Neurose

Duas amigas no táxi, depois de uma delas ter tomado um porre daqueles e levado um fora:


Laura: Ainda bem que voxê foi me buscá. Extou tão bêbada que poderia ter feito uma bex...bex...
Angélica: Besteira?
Laura: É
Angélica: Eu diria que você já fez o suficiente esta noite...Tomara que não se lembre amanhã.
Laura: Obrigada Anxélica, quase fui pra casa daquelas duas garotas e, voxê sabe, nunca goxtei muito de peitos...
Angélica: Só faltava essa né Laura? Se bem que com a quantidade de caras sacanas que você atrai seria até melhor que virasse lésbica mesmo.
Laura: Prefiro os caras sacanas.
Angélica: É, esqueça o que disse.
Laura: Angélica, voxê é minha amigona, me xalvou das lésbicas xadomasoquistas.
Angélica: Relaxa, amiga é pra essas coisas.
Laura: Valeeeuuuu amiga, voxê é dimaissss.
Angélica: Tudo bem, agora fica quietinha.
Laura: Voxê é a única amiga que eu tenho, a única que gosta de mim.
Angélica: Imagine, muita gente gosta de você.
Laura: Quem?
Angélica: Ah muita gente Laura!
Laura: Quem? Me fala...
Angélica: Sua mãe.
Laura: Ela não me liga nem no Natal...
Angélica: Seu pai.
Laura: Ele me expulsou de casa, você não lembra?
Angélica: Seu irmão então?
Laura: Não vejo meu irmão há 3 anos.
Angélica: Hum, deixa eu ver...O Dudu, a Aninha e a Marli, eles são seus amigos!
Laura: O Dudu pegou meu dinheiro emprestado mêx paxado e e xumiu...a Aninha mandou um e-mail dixendo que prefere se mantê afaxtada porque eu sou muito chata e a Marli ficou com meu ex namorado no Reveillon.
Angélica: Puxa Laura...mas deve ter alguém que gosta de você além de mim, claro que tem, pense positivo!
Laura: Não tem nãããooooo....
Angélica: E o Junior, aquele do salão de beleza?
Laura: Ele xó corta o meu cabelo, não qué dize que gosta de mim.
Angélica: Sei lá então Laura, o Seu Adamastor.
Laura: Anxélica, não apela...Eu tô mal max nem tanto...Xeu Adamaxtor é o síndico do prédio, por que ele gostaria de mim?

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No início do expediente, Vânia vira-se para o colega de trabalho:

Vânia: O que você tem?
Edu: Eu? Nada, por quê?
Vânia: Então por que não falou comigo hoje?
Edu: Por que acabei de chegar, bom dia Vânia!
Vânia: Bom dia...mas você está bravo comigo, é tão óbvio!
Edu: Mas por que eu estaria bravo com você?
Vânia: Não sei, mas está.
Edu: Não, não estou...ok?
Vânia: O Nestor também está bravo comigo...
Edu: Mas ele não acabou de trazer um café pra você?
Vânia: Sim, mas ele disfarça bem!
Edu: Olha Vânia, eu não estou bravo com você, acredito que o Nestor também não esteja. Agora vamos trabalhar?
Vânia: Trabalhar? Como você acha que eu me sinto sabendo que ninguém aqui gosta de mim?
Edu: Vânia, você está louca?
Vânia: Não Edu, só não entendo porque vocês não me falam a verdade logo.
Edu: Tá bom então... (levanta-se)
Vânia: Onde você vai?
Edu: Por favor, ouçam todos! Vânia, você é uma vaca desprezível e todos nós odiamos você. Você precisa urgentemente de um namorado para resolver o seu problema. Você é maluca, esquizofrênica, reprimida, feia e neurótica! Satisfeita?
Vânia: Feia? Como assim?

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Depois de procurar sem sucesso o tamanho 48 em todas as araras de uma loja de departamento, Ana se desespera e vai conversar com a gerente:

Ana: Boa Noite.
Gerente: Boa Noite Senhora.
Ana: Você sabe me dizer por que não encontro o tamanho 48 nesta loja? Procurei por toda a parte e não achei nada que me servisse.
Gerente: Desculpe senhora, não trabalhamos mais com essa numeração.
Ana: Mas é um absurdo, eu sempre compro aqui.
Gerente: Entendo, infelizmente não temos mesmo o seu número.
Ana: Vocês querem perder dinheiro, é isso? Porque tem muita gente que usa o número 48.
Gerente: Sinto muito. Talvez a senhora encontre alguma peça que lhe agrade nessa loja aí da frente.
Ana: Qual loja? Essa loja de gordos?
Gerente: Bem, eles trabalham com tamanhos grandes e...
Ana: Tamanhos grandes? Você está me chamando de gorda?
Gerente: Não quis dizer isso senhora, só estou tentando ajudá-la.
Ana: Você sempre ajuda as pessoas chamando-as de gorda?
Gerente: Desculpe senhora, eu preciso voltar ao trabalho.
Ana: Mas você está trabalhando minha filha, o que pensa que está fazendo aqui? Seu trabalho não é resolver os problemas dos clientes desta loja?
Gerente: Sim senhora, mas sinceramente não sei mais o que fazer para ajudá-la.
Ana: Ligue para o seu diretor, quero fazer uma reclamação formal e, entre outras coisas, alertá-lo sobre o fato de que uma de suas gerentes anda chamando as clientes de gordas.
Gerente: Mas eu não chamei a senhora de gorda.
Ana: Disse para eu comprar numa loja de gordos. Quem compra numa loja de gordos é magro por acaso?
Gerente: Bem, algumas pessoas preferem usar roupas mais largas.
Ana: Você pensa que eu sou alguma idiota que não saca quando uma pessoa está se divertindo as suas custas?
Gerente: Mas senhora, em nenhum momento eu...
Ana: Você acha que será magrinha e bonitinha para o resto da vida? Quantos anos você tem?
Gerente: 25.
Ana: Pois é, eu na sua idade era bem mais magra.
Gerente: Ok, posso ajudá-la com mais alguma coisa?
Ana: O que você acha?
Gerente: Acho que não há mais nada que eu possa fazer pela senhora. Com licença.
Ana: Só um minuto.
Gerente: Pois não?
Ana: Será que tem alguma calça tamanho 46 aí que entre em mim?

18.1.08

Insegurança Feminina


Tarde da noite. Após devorar meia dúzia de bombons Lindt, uma lata de batatas Pringles, um litro de suco de soja sabor maçã e pronta para abrir a geladeira novamente, Julia resolve ligar para Leila. O telefone toca várias vezes, mas Leila não ouve, está curtindo um sonho muito interessante com o instrutor da academia. Então, assim que a ligação cai na secretária eletrônica, Julia deixa um recado desesperado: “Puxa Leila, eu aqui passando o maior perrengue e cadê você?” Desliga o telefone e, enjoada, vai vomitar no banheiro. Dez minutos depois, resolve ligar novamente para a amiga e dessa vez, após o quinto toque, ela atende:


-Alô – sussurra Leila, ainda na fronteira entre o sonho e a realidade.


-Leila? – alegra-se Julia.


-Claro, quem poderia ser?


-Oi amiga! Você estava dormindo?


-Não, estava descansando os olhos. Julia, já passa da meia-noite sabia?!


-Ah, desculpe, eu perdi a noção da hora...


-O que foi? Alguém morreu?


-Ainda não.


-O que aconteceu então?


-Nada não, eu vou ficar bem, desculpe ter acordado você, nos falamos amanhã...


-Julia querida, você já me acordou! Agora desembucha por favor!


-É que eu estou me sentindo péssimaaaaaaa...


-Por que está chorando? Aconteceu alguma coisa com o bebê?


-Não, o bebê está ótimo e muito bem alimentado aqui na minha barriga. Acabo de detonar o estoque de comida aqui de casa.


-Ufa! Você me assustou!


-É o Cláudio...


-O que tem o Cláudio? Ele não ia chegar de viagem hoje? Aliás, ele não está aí?


-Não, ele não voltouuuuu.


-Calma, pare de chorar, respire...


-Mas eu estou respirandooooo.


-Ok, agora conte-me o que aconteceu.


-Eu liguei para o Cláudio logo cedo e ele disse que não podia falar muito porque estava em uma reunião...


-Certo...


-Hoje é nosso aniversário de casamento e ele nem se deu ao trabalho de lembrar.


-É mesmo? Que estranho, ele não costuma esquecer essas datas, não é?


-Pois é, também achei estranho, mas como ele está trabalhando muito ultimamente eu resolvi ligar de novo, uma hora depois.


-E aí ele atendeu?


-Não, caiu na caixa postal.


-Hum.


-Daí esperei até a hora do almoço, liguei novamente...


-E?


-Ele atendeu, disse que estava almoçando com alguns clientes, perguntou se estava tudo bem e falou com a cara mais lavada do mundo que não voltaria hoje.


-E ele falou o motivo?


-Justificou rapidamente dizendo que surgiram alguns imprevistos lá em Curitiba e ele teria que trabalhar até mais tarde.


-Pode ser verdade.


-Imprevistos às sextas-feiras?


-E por que não?


-Duvido...e o pior veio depois...


-O que aconteceu?


-Por volta das 18h00 eu liguei novamente. Na terceira tentativa uma moça muito simpática e com a voz sensual atendeu o telefone.


-E?


-Imagine que a piranha perguntou quem eu era. Achei um absurdo, claro! Quem permitiu esse tipo de intimidade? Entãofalei “Sou a esposa dele, e você deve ser alguma amiga muito íntima para atender o telefone perguntando quem eu sou..”


-Jura que você falou assim?


-Falei...Aí rolou uma pausa...na seqüência um burburinho. Sabe quando parece que a pessoa do outro lado está cochichando alguma coisa pra alguém?


-Ahn...sei.


-Então ela disse, muito tranquila por sinal: “Desculpe se pareci intima demais querida, eu trabalho com o Cláudio, ainda não tivemos o prazer de nos conhecer. Estamos em um happy hour com a ‘turma do escritório’ e no momento seu marido está no banheiro. Posso ajudá-la?”


-E você?


-Eu não disse nada e desliguei o telefone na cara dela.


-Não acredito que você fez isso...


-Por que, você não faria o mesmo?


-Julia, qual é o problema da mulher ter atendido o celular do Cláudio? Você ligou várias vezes, provavelmente as pessoas que estavam em volta não agüentavam mais ouvir o telefone tocar...


-Primeiro, eu não acho que o Cláudio estava em nenhum happy hour. Segundo, se ele teve um imprevisto e me disse que trabalharia até tarde, o que fazia em um bar? Terceiro, ele esqueceu nosso aniversário e isso nunca aconteceu antes.


-E onde ele estava então ‘senhorita sabe-tudo’?


-O Cláudio devia estar embaixo dos lençóis com essa vadia.


-Julia, você enlouqueceu? O que faz com que você pense essas coisas?


-Várias coisas.


-Que coisas?


-Coisas que prefiro não comentar, pois como sempre você, a mulher mais segura do mundo, está achando que eu sou neurótica.


-Julia, eu não sou a mulher mais segura do mundo e não acho que você é neurótica, mas está muito sensível por causa da gravidez, é normal...


-Desde que nos conhecemos, há 20 anos, você me diz que eu sou neurótica. Você acha que eu sou neurótica não é? Pode falar a verdade, eu agüento Leila!


-Bem querida, tenho que admitir que você é um pouco sim, as vezes exageradamente, mas tudo bem, sou sua amiga, eu entendo...


-Não, você não entende. Você nunca foi casada com um cara parecido com o Rob Lowe. Nunca viu esse cara ser assediado milhares de vezes, em vários lugares, por muitas mulheres. Nunca esteve grávida e prestes a ser trocada por uma gostosona qualquer do escritório, que além de dormir com seu marido, faz questão de atender o telefone dele, só pra você ter certeza de que ele tem uma amante e que essa amante é ela.


-É impressão minha ou você realmente está falando sério?


-Claro que estou falando sério, sérissimo! É a segunda vez esse mês que o Cláudio vai para Curitiba.


-Julia, eu sinceramente não acredito que o Cláudio esteja traindo você. Aposto que depois de sua total falta de bom senso em ter sido tão grossa com a moça e ainda por cima ter desligado o telefone na cara dele, seu marido, com toda a paciência do mundo, retornou a ligação. Não foi?


-Não, não foi.


-Não?


-Não, eu liguei novamente, depois de 20 minutos e o celular estava na caixa postal.


-Bem, de repente o celular estava fora de área.


-Ah, me poupe Leila!



De repente Julia ouve um barulho na porta.



-Leila, como se não bastasse sentir a “galhada” crescendo na minha cabeça acho que estou prestes a ser assaltada....


-Ahn? Como assim?


-Ouvi um barulho na porta...


-Tem certeza?


-Se eu não ligar daqui a cinco minutos chame a polícia. Tchau!



Cláudio entra sorrateiramente no quarto, com um buquê de rosas e uma linda caixinha dourada.



-Olá querida, que bom que ainda está acordada! – joga-se na cama


-Puxa Cláudio, você me assustou! O que está fazendo aqui? Você disse que voltaria amanhã.


-Eu queria fazer uma surpresa meu amor...o vôo atrasou um pouco...você achou que eu esqueceria nosso aniversário?!


-Então você não esqueceu?


-Claro que não, só se eu fosse um imbecil insensível, não é?


-Não querido, eu nunca pensaria isso! É que eu mal consegui falar com você o dia todo e... =pareceu que você estava atolado de trabalho...


-Entendo...e depois uma moça atendeu o telefone e você ficou furiosa.


-Quem? Eu? Ela disse isso? Por que eu ficaria furiosa? Ela deve ser...deve ser...alguma colega do escritório?


-Mais do que isso...


-Ahn? Como assim? Não me diga que vocês, quer dizer, que ela...


-Ela é a nova diretora de marketing da empresa, ou seja, minha chefe. Dei uma passada no bar antes de ir para o Aeroporto só para fazer uma média, sabe como é... Espero que você tenha sido simpática com ela. Acredito que a ligação tenha...Caído?

-Cla...claro...justamente...a ligação caiu.


-Bom, menos mal... Você está feliz? Comprei isso para você.


-Um colar? Que lindo amor!


-Vou tomar um banho e já volto, ok?


-Ok, tá, tudo bem...

-Você está bem? Parece nervosa.

-Estou ótima, acho que são os hormônios...

Então, Julia espera Cláudio entrar no banheiro, pega o telefone e liga novamente para Leila:



-Leila?


-Oi Julia, e aí?


-Era o Cláudio, ele voltou.


-Voltou? Mas não disse que voltaria só amanhã?


-Sim, mas queria fazer uma surpresa.


-Viu só como você é neurótica? Aposto que está arrependida em imaginar todas aquelas coisas horríveis...


-É...pois é, devo ser neurótica mesmo.


-E a mulher que atendeu o telefone?


(Silêncio)


-Julia, você está aí?


-Estou sim.


-E então, e a mulher?


-O problema é que...bem...ela é a chefe dele...

29.8.06

"De Onde Viemos?"


Outro dia, quando saíamos do teatro, o Lucas (meu enteado) virou pra mim e perguntou: “Tia Lu, você sabe quem mentiu pro Brasil?” Eu pensei, pensei, pensei...afinal, o que uma criança de 6 anos gostaria que eu respondesse diante desta pergunta, assim, tão ampla? Então, optei pelo mais fácil: “Não sei meu amor, por quê?” Daí, pasmem, veio a surpresa: “Ué, foi o Lula, ele não prometeu dar comida para os pobres? E não deu, não foi?” Olhei para o meu marido, meu marido me olhou e nós ficamos lá, desacreditados...

As crianças na minha época eram espertas assim ou minha mãe tinha razão e eu era mesmo uma pamonha? Não que nós não tivéssemos uma vaga noção do que acontecia a nossa volta, mas éramos mais ingênuos, não? Lembro-me de um dia, quando ainda morava no interior, fui à Biblioteca da escola procurar um livro para ler (sim, eu sempre fui nerd!). De repente dei de cara com aquele famoso livrinho “De onde viemos?” Levei um susto, fiquei vermelha, fechei e guardei rapidinho...Dias depois, voltei lá e aí sim, bem escondidinha num canto, olhei página por página. Bem, eu tinha 8 anos, já ouvira muitas conversas entre adultos, mas ainda não entendia direito aquela história da Cegonha.

E as brincadeiras então...A gente andava de carrinho de rolimã emprestado, brincava com as Barbies, jogava queimada e a tecnologia de ponta da época era o Atari. Na minha rua só um menino tinha Atari e todos os dias as crianças da vizinhança iam na casa dele. Eu também ia, claro, mas pra falar a verdade nunca brinquei no Atari, porque era “coisa de menino”. Então, espiava de longe aquele aglomerado de garotos se acotovelando para jogar um pouco, enquanto nós meninas ficávamos em outro canto, fazendo comidinha para as bonecas com as panelinhas de mentirinha.

Brinquedo a gente só ganhava no Natal, roupinha nova só quando íamos passear, não tínhamos acesso a essa variedade absurda de informações que as crianças de hoje têm, criávamos nossas próprias brincadeiras e nos divertíamos tanto. E tudo na nossa geração de 80 ,que pode soar como antiquado e “careta” para os guris da geração 2000, deixa uma saudade enorme, né?

Agora a criançada cresce num piscar de olhos, a ficha cai mais rápido e tudo de bom e de ruim que quiserem conhecer está logo ali, na Internet. As lendas e histórias da nossa infância perdem pouco a pouco o sentido...Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e Fadinha do Dente andam sumidos...A TV e o cinema se encarregam de fabricar novos mitos.

A violência, a corrupção, a falta de patriotismo, a perda de valores e de regras, a indiferença com as questões ambientais, as guerras... Como nossos pequenos lidam com esse emaranhado de tragédias que surgem a cada dia? Será que enxergam tudo isso como fatos corriqueiros?

Os adultos sofrem, mas não é nada fácil ser criança no mundo de hoje.

31.7.06

A Rosa


Olá pessoas queridas que apreciam meu blog. Sei que estou devendo uma atualização básica, mas é que o tempo anda escasso e as palavras meio que perdidas por aí. Hoje escrevi um texto, mas desisti de publicá-lo. Pessimista demais. É que hoje pela manhã, a caminho daqui, ouvi mais uma notícia trágica sobre a guerra no Líbano, que me chacoalhou por completo. De repente caiu uma daquelas fichas que sempre caem no momento errado: “Puts, o mundo é mesmo uma merda. Aliás, o mundo não é apenas uma merda, é uma fossa absoluta”.

Informavam que na noite de domingo Israel bombardeou um prédio residencial, onde morreram 60 civis, em sua maioria crianças. Em meio aos escombros do prédio, que foi destruído quase que em sua totalidade, foram encontrados muitos corpos de mulheres abraçadas aos seus filhos, na intenção de protegê-los.

Enfim, fiquei pensando no meu papel nesse planeta e em nossa total passividade diante de fatos como esse. Nos acostumamos em tratar as catástrofes como assuntos banais...Triste né?

Então, para não despejar minha revolta e minha total indignação com o mundo em vocês, resolvi deixar essa letra aí embaixo, só pra gente pensar um pouco...


Rosa de Hiroshima

Vinícius de Moraes

Pensem nas crianças. Mudas telepáticas. Pensem nas meninas. Cegas inexatas. Pensem nas mulheres. Rotas alteradas. Pensem nas feridas. Como rosas cálidas. Mas, oh, não se esqueçam. Da rosa da rosa. Da rosa de Hiroshima. A rosa hereditária. A rosa radioativa. Estúpida e inválida. A rosa com cirrose. A anti-rosa atômica. Sem cor sem perfume. Sem rosa sem nada ...

23.5.06

Diálogo sobre TPM 2


Marido: Oi amor, tudo bem?
Mulher: Tudo.
Marido: O que você faz em casa tão cedo?
Mulher: Estou lendo um livro, não está vendo?
Marido: Ah sim...desculpe. Que livro é esse?
Mulher: Um livro qualquer Antonio Augusto. Que pergunta!
Marido: Aconteceu alguma coisa?
Mulher: Não, estou puta da vida mesmo.
Marido: Entendi, TPM . Ligou para o doutor Mario?
Mulher: Doutor Mario o cacete. O que é isso aqui?
Marido: É um cartão.
Mulher: Isso eu sei, “Dra. Rita de Cássia Azevedo – Terapeuta Holística”
Marido: Pois é, é um cartão do consultório da Rita. Lembra da Rita?
Mulher: Claro que lembro da Rita. Como poderia me esquecer dessa infeliz? E o que o cartão de uma ex namorada estava fazendo no bolso da sua calça?
Marido: Não me diga que você está com ciúmes.
Mulher: É claro que eu estou com ciúmes. O que o cartão dessa mulher fazia no seu bolso afinal?
Marido: Eu e o Nogueira fomos almoçar ontem naquele restaurante vegetariano perto do escritório...
Mulher: Sei.
Marido: ...Daí para minha surpresa lá estava a Rita, almoçando com uma amiga. Ela inclusive mandou um abraço pra você.
Mulher: Abraço uma ova! Desde quando essa mulher me manda abraço? Ela sempre me odiou.
Marido: Que bobagem, ela nunca te odiou, só não entendeu por um tempo o fato de eu ter preferido ficar com você. Mas mudou muito, está mais calma, mais ponderada, virou naturalista, meio bicho grilo...
Mulher: Do que eu te livrei hein Antonio Augusto? Imagine você todo mauricinho casado com uma bicho grilo.
Marido: Precisa ver como ela está radiante, até mais bonita.
Mulher: Claro, deve estar mesmo... você é míope.
Marido: Não se preocupe, desconfio que ela esteja namorando.
Mulher: Ah é? E quem é o corajoso?
Marido: Corajoso não, corajosa...
Mulher: Co..Como?
Marido: É, acho que a moça que estava com ela é a nova namorada. Ela não me disse nada, mas mencionou algo do tipo “moramos juntas e acabamos de adotar uma cachorrinha”. Você sabe como são essas coisas né? Estavam abraçadas e tal.
Mulher: Nossa, quem diria hein...
Marido: Pois é.
Mulher: Mas você é fofoqueiro hein? Puts grila.
Marido: Eu? Fofoqueiro?
Mulher: Pior que mulher.
Marido: Bom, posso tomar meu banho? Está mais tranqüila agora?
Mulher: Claro que não, você sabe muito bem que vocês homens adoram um fetiche.
Marido: Ana, do que você está falando?
Mulher: É isso mesmo que você ouviu. Quem me garante que essa duas aí...
Marido: Querida, você está completamente maluca. Vou interná-la. E quer saber? Só peguei esse cartão por sua causa.
Mulher: O que?
Marido: É isso mesmo, ela me falou sobre o trabalho que vem desenvolvendo e achei interessante você ir até seu consultório.
Mulher: Você não fez isso...
Marido: Por que? Algum problema?
Mulher: Antonio Augusto...você...não fez isso...
Marido: Claro que fiz, olha como você está desequilibrada, além do mais é melhor procurar um profissional de confiança.
Mulher: Desequilibrada?
Marido: Se você preferir uso um termo mais ameno: desequilíbrio hormonal.
Mulher: Filho da p...
Marido: O telefone...está tocando...
Mulher: Dane-se o telefone!
Marido: Ana, se for jogar alguma coisa prefira algo barato, como esse quadro que você ganhou da sua prima. Esse vaso é caríssimo e foi mamãe quem nos deu.
Mulher: Desgraçado!
Marido: Pode ser o doutor Mario, melhor atender...
Mulher: Você me paga Antonio Augusto!
Marido: Alô? Oi, tudo bem? Está sim, mas não sei se...Ah, ok, mas é melhor ir com calma, só um minuto...
Mulher: Quem é? Não vou falar com ninguém...Quero te matar primeiro.
Marido: Querida...
Mulher: Não fala comigo!
Marido: Meu bem...
Mulher: O que é?
Marido: O telefone...
Mulher: Eu sei. Desembucha!
Marido: Bom...é..a Rita.

3.5.06

Saudades dos meus velhinhos...


Embora a proposta desse blog não seja criar um clima piegas de nostalgia bateu-me subitamente uma saudadezinha de meus avós e, como faz tempo que não dou as caras por aqui, resolvi dividir com vocês esse momento. Sim, é sublime lembrar de meus avós e quem os conheceu sabe o porquê. Além disso, é bom voltar a uma época em que eu sempre tinha um cafuné da vovó me esperando em casa e um “oi branquela” do vovô ao abrir a porta. Meus velhinhos tinham olhos ternos e temperamentos difíceis, eram carinhosos, briguentos e nos divertíamos com suas histórias. Eram avós e pais pra ninguém botar defeito. Tudo bem que a gente botava de vez em quando, mas os relacionamentos humanos vacilam constantemente entre a admiração e a crítica, então acho que estamos perdoados. No fim das contas o que ficam são as recordações...daqueles domingos com a casa cheia, da mesa repleta de coisas gostosas, do barulho da TV na sala depois do almoço, do vovô sentado na poltrona contando suas histórias maravilhosas e da vovó sonhando com a cozinha nova...Coisas que não voltam.

É estranho, mas pra mim é claro que amamos ainda mais as pessoas depois que elas partem. Antes de perdê-los eu nunca havia pensado nisso, talvez porque não quisesse acreditar que um dia eles nos deixariam, mas depois do vazio que nos consumiu durante esse tempo de ausência, acredito que só hoje consigo retribuir o amor incondicional que eles sentiam por mim. Um amor difícil de se ver no mundo de hoje. Por isso a importância de dizer o que sentimos enquanto ainda podemos, de retribuir e valorizar as pessoas que nos fazem bem, de falar com os olhos. Quando eu ouvia alguém falar essas coisas achava uma bobagem, mas é a pura verdade. Dizer “eu te amo” é privilégio para poucos.

As últimas conversas, as frases que não foram ditas, o abraço forte que não aconteceu, os últimos passos...Tudo isso fica pra sempre. Dou um jeito de ser um pouquinho do que eles foram e um dia passar todas aquelas lições maravilhosas para a minha prole. Seria melhor se eles ainda estivessem por perto, mas enfim, alguém lá em cima preferiu que virassem anjos.
Uma lágrima aqui, outra ali e a vida segue seu rumo.

Enquanto isso eles me espiam de algum lugar e sorriem.
Vovô diz “Ah branquelinha, que besteira!”
E vovó puxa minha orelha. “Vai dormir menina, já tá tarde!”

3.4.06

Crise


Instaurou-se um período de crise: ideológica, emocional, criativa, financeira, profissional. Mil crises em uma. Pane Total. O mundo está depressivo e as pessoas carentes de compreensão. Morreram os valores, as crenças, as necessidades coletivas. Morreu o romance, a ternura, a novidade, o respeito, a quimera, as palavras doces. E não há nada que rapidamente possa mudar tudo isso. O fato é que Deus nos deu asas, mas não nos ensinou a voar. Por isso queremos sempre mais da vida e das pessoas. Vez ou outra deparo-me com um questionamento no qual muitos de vocês já devem ter se deparado: “Ser um inteligente insatisfeito ou um ignorante feliz?” Enfim, quase sempre nos tornamos aquilo que juramos nunca ser. De repente a concha se fecha e ficamos lá, acomodados, acovardados, esperando que algo inesperadamente caia do céu. Uns querem coisas, outros querem conhecimento. E nesse emaranhado de desejos e planos irrealizáveis vivemos para o amanhã, nunca contentes com o que temos hoje. Passamos a vida inteira em meio ao dilema de lutar ou ceder.
O que tenho é um punhado de idéias, sonhos que não acabam e um mundo que não entendo e que não me entende. Não sei se finco os pés no chão ou se permito que eles se desprendam. E o pessimismo é fruto dessa indecisão. Enfim, uma injeção de esperança eloqüente cairia muito bem, mas por enquanto me perco nas metáforas.