Textos, Tropeços e Pensamentos Quixotescos...

Jornalista. Cinéfila. Neurótica praticante. Aquela que sempre anda com um livro embaixo do braço. Aquela que adora compartilhar bobagens. Uma Dom Quixote fêmea, a combater moinhos de vento...
"Dize o que quiseres, conquanto que suas palavras não visem me atemorizar; assuma o seu medo, se o tiveres, que eu procederei como quem não tem, se for o caso."
(Dom Quixote de La Mancha)

23.5.06

Diálogo sobre TPM 2


Marido: Oi amor, tudo bem?
Mulher: Tudo.
Marido: O que você faz em casa tão cedo?
Mulher: Estou lendo um livro, não está vendo?
Marido: Ah sim...desculpe. Que livro é esse?
Mulher: Um livro qualquer Antonio Augusto. Que pergunta!
Marido: Aconteceu alguma coisa?
Mulher: Não, estou puta da vida mesmo.
Marido: Entendi, TPM . Ligou para o doutor Mario?
Mulher: Doutor Mario o cacete. O que é isso aqui?
Marido: É um cartão.
Mulher: Isso eu sei, “Dra. Rita de Cássia Azevedo – Terapeuta Holística”
Marido: Pois é, é um cartão do consultório da Rita. Lembra da Rita?
Mulher: Claro que lembro da Rita. Como poderia me esquecer dessa infeliz? E o que o cartão de uma ex namorada estava fazendo no bolso da sua calça?
Marido: Não me diga que você está com ciúmes.
Mulher: É claro que eu estou com ciúmes. O que o cartão dessa mulher fazia no seu bolso afinal?
Marido: Eu e o Nogueira fomos almoçar ontem naquele restaurante vegetariano perto do escritório...
Mulher: Sei.
Marido: ...Daí para minha surpresa lá estava a Rita, almoçando com uma amiga. Ela inclusive mandou um abraço pra você.
Mulher: Abraço uma ova! Desde quando essa mulher me manda abraço? Ela sempre me odiou.
Marido: Que bobagem, ela nunca te odiou, só não entendeu por um tempo o fato de eu ter preferido ficar com você. Mas mudou muito, está mais calma, mais ponderada, virou naturalista, meio bicho grilo...
Mulher: Do que eu te livrei hein Antonio Augusto? Imagine você todo mauricinho casado com uma bicho grilo.
Marido: Precisa ver como ela está radiante, até mais bonita.
Mulher: Claro, deve estar mesmo... você é míope.
Marido: Não se preocupe, desconfio que ela esteja namorando.
Mulher: Ah é? E quem é o corajoso?
Marido: Corajoso não, corajosa...
Mulher: Co..Como?
Marido: É, acho que a moça que estava com ela é a nova namorada. Ela não me disse nada, mas mencionou algo do tipo “moramos juntas e acabamos de adotar uma cachorrinha”. Você sabe como são essas coisas né? Estavam abraçadas e tal.
Mulher: Nossa, quem diria hein...
Marido: Pois é.
Mulher: Mas você é fofoqueiro hein? Puts grila.
Marido: Eu? Fofoqueiro?
Mulher: Pior que mulher.
Marido: Bom, posso tomar meu banho? Está mais tranqüila agora?
Mulher: Claro que não, você sabe muito bem que vocês homens adoram um fetiche.
Marido: Ana, do que você está falando?
Mulher: É isso mesmo que você ouviu. Quem me garante que essa duas aí...
Marido: Querida, você está completamente maluca. Vou interná-la. E quer saber? Só peguei esse cartão por sua causa.
Mulher: O que?
Marido: É isso mesmo, ela me falou sobre o trabalho que vem desenvolvendo e achei interessante você ir até seu consultório.
Mulher: Você não fez isso...
Marido: Por que? Algum problema?
Mulher: Antonio Augusto...você...não fez isso...
Marido: Claro que fiz, olha como você está desequilibrada, além do mais é melhor procurar um profissional de confiança.
Mulher: Desequilibrada?
Marido: Se você preferir uso um termo mais ameno: desequilíbrio hormonal.
Mulher: Filho da p...
Marido: O telefone...está tocando...
Mulher: Dane-se o telefone!
Marido: Ana, se for jogar alguma coisa prefira algo barato, como esse quadro que você ganhou da sua prima. Esse vaso é caríssimo e foi mamãe quem nos deu.
Mulher: Desgraçado!
Marido: Pode ser o doutor Mario, melhor atender...
Mulher: Você me paga Antonio Augusto!
Marido: Alô? Oi, tudo bem? Está sim, mas não sei se...Ah, ok, mas é melhor ir com calma, só um minuto...
Mulher: Quem é? Não vou falar com ninguém...Quero te matar primeiro.
Marido: Querida...
Mulher: Não fala comigo!
Marido: Meu bem...
Mulher: O que é?
Marido: O telefone...
Mulher: Eu sei. Desembucha!
Marido: Bom...é..a Rita.

3.5.06

Saudades dos meus velhinhos...


Embora a proposta desse blog não seja criar um clima piegas de nostalgia bateu-me subitamente uma saudadezinha de meus avós e, como faz tempo que não dou as caras por aqui, resolvi dividir com vocês esse momento. Sim, é sublime lembrar de meus avós e quem os conheceu sabe o porquê. Além disso, é bom voltar a uma época em que eu sempre tinha um cafuné da vovó me esperando em casa e um “oi branquela” do vovô ao abrir a porta. Meus velhinhos tinham olhos ternos e temperamentos difíceis, eram carinhosos, briguentos e nos divertíamos com suas histórias. Eram avós e pais pra ninguém botar defeito. Tudo bem que a gente botava de vez em quando, mas os relacionamentos humanos vacilam constantemente entre a admiração e a crítica, então acho que estamos perdoados. No fim das contas o que ficam são as recordações...daqueles domingos com a casa cheia, da mesa repleta de coisas gostosas, do barulho da TV na sala depois do almoço, do vovô sentado na poltrona contando suas histórias maravilhosas e da vovó sonhando com a cozinha nova...Coisas que não voltam.

É estranho, mas pra mim é claro que amamos ainda mais as pessoas depois que elas partem. Antes de perdê-los eu nunca havia pensado nisso, talvez porque não quisesse acreditar que um dia eles nos deixariam, mas depois do vazio que nos consumiu durante esse tempo de ausência, acredito que só hoje consigo retribuir o amor incondicional que eles sentiam por mim. Um amor difícil de se ver no mundo de hoje. Por isso a importância de dizer o que sentimos enquanto ainda podemos, de retribuir e valorizar as pessoas que nos fazem bem, de falar com os olhos. Quando eu ouvia alguém falar essas coisas achava uma bobagem, mas é a pura verdade. Dizer “eu te amo” é privilégio para poucos.

As últimas conversas, as frases que não foram ditas, o abraço forte que não aconteceu, os últimos passos...Tudo isso fica pra sempre. Dou um jeito de ser um pouquinho do que eles foram e um dia passar todas aquelas lições maravilhosas para a minha prole. Seria melhor se eles ainda estivessem por perto, mas enfim, alguém lá em cima preferiu que virassem anjos.
Uma lágrima aqui, outra ali e a vida segue seu rumo.

Enquanto isso eles me espiam de algum lugar e sorriem.
Vovô diz “Ah branquelinha, que besteira!”
E vovó puxa minha orelha. “Vai dormir menina, já tá tarde!”